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Mercado de trabalho está mais aquecido em 2024
Além do forte aumento no número de vagas não típicas em fevereiro, somando 5,3 milhões do estoque total, o cenário para os trabalhadores com carteira assinada é positivo para as vagas tradicionais e de maior qualidade
A atividade econômica tem dado sinais de desaceleração desde a segunda metade de 2023, mas o mercado de trabalho continua demonstrando resiliência e dados de fevereiro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na quarta-feira passada, confirmam essa tendência, conforme levantamento feito por especialista.
A análise colocou uma lupa sobre os dados de empregos não típicos, que passaram a ser destacados no novo Caged. Essa classificação inclui modalidades como jovens aprendizes, trabalhadores temporários e aqueles que trabalham até 30 horas semanais. No mês passado, somaram 5,3 milhões de trabalhadores formais, 11,5% do estoque total de vagas, de 45,9 milhões. O dado é quase o dobro da média do estoque antes de 2019, entre 5% e 6%, segundo pesquisa da LCA Consultores.
Em fevereiro, o percentual de vagas atípicas ficou bem acima da média pós-pandemia, chegando a 26% do saldo de 306,1 mil novas vagas registradas no segundo mês do ano, somando 80 mil. "Esse dado chamou a atenção, mas acredito que tem muita contratação de trabalhadores temporários que trabalham no setor de educação e acaba explicando esse aumento. Mesmo assim, ainda é possível ver um dado positivo do mercado de trabalho", destaca o economista Bruno Imaizumi, da LCA, em entrevista ao Correio.
O levantamento feito pelo analista, com base nos números do Caged, mostra que o mercado está mais aquecido, voltando a gerar empregos mais típicos, o que não ocorreu durante a pandemia, quando os empregos atípicos ganharam mais espaço, especialmente após a reforma, de acordo com Imaizumi. "Ultimamente, desde 2021, quando o mercado de trabalho começa a se recuperar das perdas durante a pandemia, tem ocorrido aumento de vagas com mais qualidade do que no período entre crises", afirma.
O economista lembra que, em 2019, havia, no estoque de empregos com carteira assinada na base do Caged, 4,1 milhões de cargos atípicos e esse número aumentou 1,2 milhão até fevereiro deste ano. Enquanto isso, o estoque de vagas típicas passou de 34,9 milhões, em dezembro de 2019, para 40,8 milhões, no mês passado. "Isso representa um aumento de 5,9 milhões, mesmo com a pandemia. Isso é a volta de emprego de verdade, de vagas com mais qualidade", destaca.
O analista da LCA reconhece que, durante a crise sanitária, as vagas que contribuíram para o aumento de emprego logo após a pandemia da covid-19 eram de menor qualidade, mas, agora, como o mercado de trabalho está mais aquecido, os cargos típicos também estão apresentando aumento. Contudo, as novas vagas geradas ainda esbarram na questão da produtividade, que vem sendo apontada como uma preocupação do Banco Central. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, publicada na última terça-feira, o colegiado revelou preocupação com o fato de o mercado de trabalho estar aquecido e, ao mesmo tempo, isso não refletir melhora na produtividade.
"Algumas das vagas que estão sendo geradas acabam esbarrando nessa questão e não estão acompanhadas da questão produtividade, mas essa é uma questão estrutural do Brasil. O problema é que, olhando para os dados do Caged, por mais que a variação dos empregos atípicos tenha ocorrido via informalidade, a participação não tem variado muito nos últimos anos", explica Imaizumi. Ele ressalta que, com a ampliação das modalidades incluidas na nova metodologia do Caged, iniciada em 2020, a série histórica mostra que é possível considerar a formação de empregos típicos também. Por isso, o mercado de trabalho está aquecido, sim, e esse vai ser um dos principais temas para as próximas reuniões do Copom", acrescenta.
Ainda de acordo com o analista da LCA, as mudanças metodológicas e, querendo ou não, todas essas questões que foram colocadas pelo Copom nao são de simples compreensão e vão esbarrar na inflação. "E, como o BC brasileiro segue há muito tempo apenas a meta de inflação, ele deveria considerar a questão do emprego nas tomadas de decisão. Para isso, seria preciso repensar a curva futura de juros", diz.
trabalho formal não tipico
(foto: pacifico)
Juros
Na semana passada, durante a apresentação dos números do Caged, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, aproveitou os dados positivos do mercado formal e não perdeu a oportunidade de criticar a autoridade monetária. "Queria chamar a atenção do Banco Central, porque os juros estão um absurdo e o BC não precisa ficar preocupado porque o mercado de trabalho vem mais forte. O cuidado que eles têm que ter é continuar reduzindo a taxa de juros, porque o Brasil continua com a segunda maior taxa (de juros reais — descontada da inflação) do mundo. Os juros estão altos e é preciso continuar com a redução dos juros para a economia continuar crescendo."
O ministro, contudo, admitiu que o aumento da massa salarial não vem ocorrendo por meio de crescimento da produtividade, e, para isso, ainda é preciso que as empresas invistam mais na melhoria das máquinas. "A produtividade por investimento e as empresas estão com investimentos insuficientes para a melhoria dos equipamentos. Elas precisam reformular as máquinas que, eventualmente, estão obsoletas para aumentar a produtividade. E, para isso, convido o Banco Central a aumentar mais esse debate, e não só uma simples constatação de números globais. É preciso dar uma aprofundada em cada setor para poder falar sobre essa questão da produtividade."
Na avaliação de Marinho, os investimentos que estão sendo anunciados, principalmente no setor automotivo, devem ajudar a aumentar a produtividade da indústria automotiva.
Perspectivas
Pelas projeções da consultoria LCA, o Copom deverá, na próxima reunião de maio, reduzir a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,75% ao ano, em mais 0,50 ponto percentual, para 10,25% ao ano. E, em junho, o ritmo de corte deverá ser reduzido para 0,25 ponto percentual, terminando o ciclo em 9% anuais, de acordo com Imaizumi.
"Mas isso vai depender de como a economia vai andar até lá", frisa. Ele reconhece que existem questões que não são macroeconômicas e que podem influenciar para que a Selic continue mais elevada, como o comportamento do mercado de trabalho e o inevitável aumento de gastos dos governos em mais um ano eleitoral. Mas aponta que o mercado financeiro sabe que, em gestões do PT, as autoridades costumam gastar mais e isso pode contribuir para um crescimento maior da economia, e, consequentemente, pode gerar mais pressões inflacionárias.
Por conta disso, Imaizumi destaca que a LCA está mais conservadora em relação à atividade econômica e manteve em 1,5% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. "Estamos olhando para questões que podem frear a atividade econômica, como a queda na produção agrícola e algumas questões dos reservatórios. Certamente, vamos ter um crescimento em 2024 menor do que o de 2023. Então, estamos segurando as projeções ainda. Mas, querendo ou não, esses dados de atividade de mercado de trabalho que foram divulgados pelo Caged mostram um cenário um pouco mais forte, pelo menos, no mercado de trabalho", complementa o especialista.